23 novembro, 2006

Penso, logo existo



Oi amigos! Ainda nao sei bem como fazer um blog, mas já sei que preciso de um. Desde que vi o blog de uma amiga do Orkut, percebi quão interessante seria colocar alguns textos (ou desabafos, chamem como quiser) que escrevo aqui, nessa terra onde João, ou Pedro (sei lá) perdeu as botas.

Não tenho a menor idéia da parte técnica do blog, mas idéias na cabeca não me faltam. Pra completar, uma outra amiga de Orkut e MSN, que compartilha comigo essa vida longe de casa na Dinamarca, também tem blog (um não, vários, kkk), o que me motivou ainda mais. Me desculpem os mais exigentes com o portugues pq meu computador não tem cedilha, então estou só no C mesmo.

Sempre tive inveja de quem escreve bem, mas na verdade, eu mesma nunca tentei expor algumas de minhas idéias, opiniões e conflitos, afinal, os grandes escritores foram pessoas cheias deles ou apenas apaixonadas e revolucionárias. Também muito inteligentes.. rsrs.

A faculdade de jornalismo me mostrou coisas surpreendentemente interessantes, mas confesso que muito mais que lead, deadline e outras regrinhas como: onde, quando, porque, o que, quem? foram pouco se relacionadas com o aprendizado subliminar… aquele que nao está escrito em lugar nenhum, ninguem fala sobre ele, vc apenas sente. Eu sentia muito isso nos quatro anos de faculdade e simplesmente até hoje não consigo verbalizar realmente o que é.

Outro dia fui tentar explicar para o meu namorado a feliz sensacão que eu tinha ao entrar no prédio da faculdade, ou na biblioteca.. Não sei pq sentia isso, mas ficava imaginando: poxa, a pessoa tomou banho, arrumou, pegou um ônibus pra chegar aqui e simplesmente APRENDER.. Para mim isso é simplesmente maravilhoso. É uma opcão. Pessoas adultas que pagavam (e caro) para aprender… Não sei se vocês me entendem, mas para mim isso é maravilhoso. Bom, ele não compreendeu muito bem o lado lírico dos meus pensamentos, mas para mim, continua lindo.

Quando entrei na faculdade foi tudo muito rápido. Fiz cursinho pouco tempo e tentei apenas uma escola, só para saber como eu estava de estudos (que realmente eu sabia que não era muita coisa). Passei no vestibular, fiquei muito feliz, minha família também, mas realmente escolhi o curso que mais tinha a ver comigo, nao era necessáriamente o que eu amava. Durante o curso, via pessoas falando do jornalismo como um sonho de vida, de profissão, tipo: “Vamos mudar o mundo!!”… Eu olhava aquilo e, além de achar péssimo (muitas pessoas ajudam a “mudar o mundo” sem mal saber ler), me criticava pela falta de amor a profissão. Pensava eu: ou sou muito realista ou simplesmente não sou jornalista. Para completar, escutei quatro anos: “Se quer ganhar dinheiro muda de curso!”. Mas, sinceramente, quem não quer trabalhar e ganhar bem? Que coisa boba de se dizer... gente… ficava p. da vida..

No comeco do curso tudo era festa. Não tinha namorado, 18 anos, achando que era gente, rsrs.. E quando eu digo que tudo era festa é porque era festa mesmo! Barzinho na porta da faculdade, festa sexta (estou sendo generosa em dizer sexta porque não tinha dia certo) depois da aula (estudava à noite), sabado churrasquinho na casa de um, domingo samba na boate tal e assim o tempo foi passando. Depois de uns dois anos todo mundo cansou (lógico). Quem tinha que ficar com quem já tinha ficado, quem tinha que namorar já estava namorando, a gente já conhecia pai e mãe do povo então perdeu a graca… O salto alto foi trocado por um tênis básico, a maquiagem não passava de um batonzinho (e olhe lá), o caderno já não era mais trocado todo semestre (se tem folha branca tá bom demais) e assim, a coisa comecou a fazer sentindo.

Talvez por isso o curso de jornalismo meesmo não comeca a ser explorado no início… primeiro é filosofia, antropologia, sociologia, e bla bla blagia, até que comecamos a encarar a prática da profissão. Nunca tinha pensado nisso antes, mas estou achando, agora, que eles esperam um maior amadurecimento dos alunos.. sera? Existe essa chance, apesar de que, tem gente que entra e sai sem um pingo de consciência do que está fazendo ali dentro.

Hoje moro em Slagelse, uma cidadezinha pequenininha na Dinamarca. Se vocês estão se perguntando onde fica a Dinamarca, não tenham vergonha porque eu já cheguei a perguntar se era perto da Austrália (abafa o caso), mas a verdade precisa ser dita, rsrs. A Dinamarca fica entre a Alemanha, Suécia e Noruega, lá no alto da Europa. Como eu vim parar aqui é oooooutra história, mas eu prometo contar logo.

Hoje meus pensamentos sobre educacão ainda estão vivos, na verdade, mais vivos do que nunca. Quem me conhece sabe da minha mania de dizer: “Eu penso muitas coisas” e realmente penso… Agora dei pra pensar em inglês, mas isso também é outra história rsrs. Aqui na Dinamarca faculdade para os nativos é de graca. Voce faz tipo o nosso segundo grau e somadas as notas, você escolhe o curso. Cada curso tem o mínimo de pontos para entrar. Como no Brasil, por exemplo, medicina é o curso que exige o maior número de pontos. A questão que me faz “pensar muitas coisas” é que simplesmente poucas pessoas fazem faculdade. Não sei dizer em números, e também não posso comparar com o Brasil, ja que aí poucas pessoas têm condicões de fazer um curso superior.

Meu estranhamento é que o número de pessoas da minha idade e do meu convívio que estudam é pequeno quando comparo com os meus amigos no Brasil. Tentar explicar isso para vocês me fez pensar se isso é bom ou ruim. No Brasil, vemos o estudo como única alternativa para uma vida melhor, mesmo com a consciência de que pode nem ser tãão melhor assim. Aqui, tudo o que você faz, tudo mesmo é valorizado, qualquer mão de obra tem valor, por isso a falta de interesse pelos estudos. Falta aquele status que sentimos ao falar na balada com aquele(a) gatinho(a): “Faco faculdade – é? Qual curso? – o curso tal e voce? – eu faco tal, tem tudo a ver comigo…” e assim vai.. Pode falar que voce já ouviu essa conversa de algum lugar… ein? ein? kkk. Pois é. Isso tudo já me fez sentir uma estrela de cinema quando me perguntaram o que eu sou, ou o que fazia no Brasil. “I am journalist”… o peito até estufa! Rsrs.

Aqui os valores são outros e as responsabilidades são encaradas cedo. Os jovens moram sozinhos, pagam as contas, lavam loucas e sabem cozinhar. Quem estuda recebe uma ‘bolsa’ do governo (né bolsa família não, o negócio é bacana, paga aluguel, as contas e tudo mais) e quem não estuda trabalha em tempo integral. Quem tem um relacionamento mais sério, um namoro mais longo mora junto (uma coisa suuuuuuper normal) divide as contas e vivem felizes para sempre (mesmo que seja necessário trocar de namorado(a), rsrs). Eles tem três opcões: faculdade, curso técnico como, enfermagem, carpintaria e outros, e tipo um trainee. O trainee sai da escola e vai trabalhar numa empresa. De tempos em tempos ele recebe um treinamento e, ao final do ‘curso’, recebe uma graninha melhor. Todas as opcões citadas a cima possuem a garantia de um salario bacana e uma vidinha tranquila.

Nesse momento, o “eu penso muitas coisas” no quesito educacão está voltado para o aprendizado de linguas. Estou estudando dinamarques, vou à escola três vezes por semana, num total de 15 horas. O trem tá feio pro meu lado. Não que eu imagine ser impossível aprender essa lingua (ja pensei isso), mas é tudo tããão diferente do nosso velho conhecido português… Posso dizer que a única semelhanca é que nacionalidade e lingua não precisa escrever com letra maiúscula, já que o inglês tem essa moda... rsrsrs. Na minha sala de aula tem três russas, uma iraquiana, um turco, um alemão, duas tailandesas, uma africana, uma da Ucrânia e uma das Filipinas (espero não esquecer ninguém, mas acho que é isso mesmo) e euzinha, brasileira. Todo mundo fala ingles (lógico) e eu, essa humilde pessoa, posso até dizer que falo também, mas não a quantidade necessária. O fato de não ter brasileiros na minha sala tem dois lados: um é que estou melhorando meu ingles na marra e outro que me sinto sozinha, nao posso bater um papo a toa…

Mas isso possibilita minhas viagens mentais, já que passo horas olhando aquele povo, cada um mais diferente que o outro, sotaque, cor, jeito de vestir, mas com o mesmo objetivo: aprender a falar dinamarques. Que legal! O mais interessante de tudo é que 90% dessas pessoas são casadas com dinamarqueses e vieram morar aqui – inclusive eu – (olha do que o amor é capaz). Os outros 10% eu não sei realmente, talvez estão pelo mesmo motivo.. rsrs. Eu fico observando (como já dizia um velho poeta: porque a gente observa… e a gente fica observando): um come frango e porco no café da manhã, o outro come só sete da noite, outro come pão com manteiga e doce de lei lá o que. Como o mundo é tão grande e ao mesmo tempo tão pequeno. Quantos representantes de quantos lugares do mundo dentro de uma mesma sala. São dicionários de diversas nacionalidades em cima das carteiras, cada um mais maluco que o outro. Um prato cheio para quem gosta de filosofar sobre o ato de aprender.

6 comentários:

Priscila disse...

Oie!!!...Serei a primeira a deixar um recadinho no seu novissimo diario aberto!!!!..
adorei o Primeiro post, e confesso que tambem estou querendo fazer um...Por enquanto continuo lendo o seu mesmo!!!....beijos
Pri - Aarhus

Soneca disse...

fala preta , ficou muito bom su blog...
mas vc não contou de muita coisa q vc fez ai....
quero q vc conte os vexames, q eu tenho certeza q vc ja cometeu!!! haukhakhakuhaka
bjusbjus

Luciana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luciana disse...

Oiaaaa...Por alguns instantes tive a sensação exata do tom da sua voz, com um jeitinho PPP
Jornalista-Filosofica de ser...kkk

E..."Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica..." Viu doida...

Beijocas Preta

Luciana Gonçalves

Unknown disse...

Filha,

Gostei muito de seu Blog e de seu primeiro artigo. Está se revelando uma boa jornalista, o que mostra que os sacrifícos não foram em vão. Parabéns, beijos e muitas saudades.

Seu Pai.

Dehh disse...

Muito bom, me identifiquei com a sua personalidade, parabéns pelo blog e por suas conquistas ai na Dinamarca.
Abços!!